terça-feira, 24 de julho de 2012

Uso da calda sulfocálcica 1

A calda sulfocálcica para eliminar ou prevenir pragas (fungos, caracóis, cochonilhas, pulgões, etc.) e adubar a planta é aplicada três semanas consecutivas no inverno (antes das gemas começarem a inchar), em diluição de 25 a 30mL/L de água e borrifada na planta toda (inclusive troncos, cavidades, etc.). Essa aspersão é feita no final do dia (idealmente, momento mais fresco e sem vento), logo depois de leve rega para umidificar as folhas e substrato, deixando passar a noite e regando de novo abundantemente na manhã seguinte para evitar que eventuais gotas concentradas da solução queimem a planta quando o sol esquentar.
Além dessa utilização (que tem efeitos preventivos, terapêuticos e de fortalecer a planta), existem situações onde se usa concentrações maiores de 30mL/L (por exemplo, para fazer uma desfolha quimica, usando uns 60mL/L e borrifando a planta que se quer desfolhar - útil para grandes kaedês ou em viveiros com muitas plantas), ou mesmo pura, por exemplo, ao tratar madeira morta ou fazer limpeza de troncos que se quer clarear.
Esses usos podem ser potencialmente danosos para as raízes, principalmente quando a planta não gosta de pH básico, ou quando os fungos - micorriza - que vivem em simbiose com a árvore (como nos pinheiros negros) podem ser prejudicados pela calda (que tem efeito fungicida, aliás uma de suas utilidades).

Pesquisando técnicas de uso da calda em sites japoneses, encontrei no endereço
http://homepage2.nifty.com/miyamotoen/bonsai-turedurekusa-4/top.htm
exemplos de como proteger o substrato e as raízes.

Primeiro: usando solução de calda (30mL/L) para tratar um pinheiro negro jovem, evitando perturbar as raízes. Solução preparada em balde grande. Com a experiência, a cor da solução acaba sendo uma referência boa para se ter idéia da concentração. Tem de ser misturada (veja como tende a ser mais concentrada no fundo, ficando água limpa em cima).



Abaixo: a planta deve estar firme no vaso, e pode precisar ser amarrada para não cair.


Abaixo: usando um balde profundo, a planta toda (até o começo do nebari) é imersa na solução e retirada rapidamente (apenas o tempo de molhar tudo, exceto o substrato).


Abaixo: coloca-se a planta apoiada para escorrer o excesso para fora do vaso (em posição que permita escorrer e gotejar sem fluir para o substrato).


Abaixo: efeito final do tratamento. Esse tratamento radical é útil para eliminar fungos e pragas das agulhas e galhos. Pode queimar gemas novas: não fazer logo depois (menos de 60 dias) de pinçagem das agulhas nem de podas drásticas que tenham deixado feridas: a calda se for absorvida pelos vasos abertos pode matar o galho ou até a planta toda. O aspecto brancacento do tronco e galhos irá desbotar lentamente com as regas (pode levar um ano para voltar à cor normal da casca). Uma escovação leve depois de uns 60 dias também ajuda.



Abaixo: outro uso, agora de solução concentrada (pura) para clarear o tronco de um pequeno kaedê, desfolhado, protegendo o nebari com um pano absorvente para não deixar escorrer para o substrato.



Abaixo: cuidado ao pintar os galhos: gemas novas serão queimadas e mortas. Melhor se ater às partes nuas do tronco e galhos mais grossos, primários.


Abaixo: concluindo o tratamento: eliminar o excesso do pincel, evitando deixar escorrer.


Abaixo: trabalho feito. A cor amarela irá se tornar branca em um ou dois dias. Esse tratamento é mais seguro logo depois (uns 10 dias) da poda dos ramos, antes que as gemas inchem, para evitar que sejam queimadas.


Tratamentos com calda são parte dos cuidados de inverno, antes das plantas "acordarem" e a brotação começar. Não tenho coragem de fazer esses tratamentos com calda depois de transplantar, a não ser quando uma planta é arrancada do chão e colocada no primeiro vaso de treinamento. Nesse caso, a primeira rega da planta recém recolhida (ex.: yamadori), imediatamente depois de ter sido acomodada em vaso, é com solução concentrada de calda - 45mL/L de água, e o propósito é exatamente eliminar fungos do substrato e proteger as raízes feridas, que ainda não começaram a emitir novas raízes ciliares.

A pior época para fazer tratamentos com calda é quando as gemas e brotos de folhas e flores estão começando a abrir, ou entre o terceiro e o trigésimo dia após transplante, quando as raízes novas estão sendo produzidas e ainda são muito frágeis. Plantas com alporque ou feridas abertas também são mais vulneráveis: as raízes do alporque podem ser queimadas, e as feridas podem absorver calda e queimar os vasos de circulação em ambos os sentidos (raízes - folhas e vice-versa). Fora isso, calda sulfocálcica é essencial em bonsaísmo.

Abaixo, exemplo da utilidade da calda: o tosho, com a madeira tratada, indo muito bem. O ten-kei é uma coruja de ônix. Como já imaginava (vide a postagem "ten kei"), uma ave de rapina combina muito bem com esses juníperus que têm madeira morta (shari). O vaso decorado é japonês, "tokoname" (procedente da região de Tokoname).

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