Como já foi discutido em outras postagens, a tarefa de fazer tradução de palavras ou busca de seu sentido, por exemplo para a própria palavra "bonsai", revela uma complexidade e riqueza de sentido de difícil tradução em outras línguas. O resultado é que, na falta de palavras que exprimam o sentido original, resta-nos "traduzir" as palavras japonesas em frases (ex.: "kengai" = "bonsai em estilo cascata"), ou correr o risco de perda do sentido original.
Dada a pertinência de usar as palavras japonesas para exprimir ou referir mais exatamente idéias, técnicas, objetos e todo o vocabulário do jargão do bonsaísmo (quase uma língua dentro da língua), trago informações sobre a transliteração (o processo de escrever, usando o alfabeto latino, palavras escritas com ideogramas usados para escrever em japonês) e pronúncia (qual som se aproxima do originalmente produzido pelos japoneses ao ler aqueles ideogramas).
Começo pela transliteração. A escrita japonesa usa três sistemas:
Haragana, cursivo, comum, traços relativamente simples. Usado para transcrever nomes não japoneses, termos estrangeiros e onomatopéias.
Katakana, mais formal, com o qual a maioria das palavras japonesas são escritas.
Tanto a escrita haragana como a katakana tem 46 caracteres e são silábicas.
Além desses sistemas, a escrita japonesa também usa caracteres chineses: o sistema kanji, onde cada caracter tem significado próprio (não apenas um som) e que, conforme contexto, pode ter mais de uma leitura.
Essa diversidade implica problema também para os próprios japoneses: como escrever em japonês usando alfabeto latino; e como fazer a transliteração reversa -escrever as palavras de outra língua em caracteres japoneses que reproduzam ou ao menos se pareçam com o som original, o que fazem usando ideogramas haragana. Há ainda o problema de diferenças estruturais das línguas: os japoneses não pronunciam o som da letra "L" (é uma das diferenças entre o japonês e o chinês).
Grande parte dos dicionários japoneses usa o sistema criado pelo médico americano James Curtis Hepburn, nascido na Pensilvânia em 1815. Hepburn esteve no oriente (Singapura, China e Japão) como missionário, aprendeu as línguas e compilou dicionário Japonês-Inglês, usando o sistema proposto por ele mesmo para escrever japonês usando o alfabeto latino. Também fez o inverso: uma versão da bíblia usando ideogramas japoneses. Morreu nos Estados Unidos em 1911. A foto abaixo (e parte das informações) foi copiada da wikipedia.
Agora vamos à pronúncia. Sendo Hepburn falante da língua inglesa, o sistema por ele criado convenciona que a escrita deve ser lida com pronúncia do inglês. Saber que foi feito tendo o inglês como língua de referência ajuda a entender as razões do sistema Hepburn não usar as letras V (usa o W, e o som de "v" "acontece" pela pronúncia do "W" com som de "u" - semi-vogal - seguido de vogal), e Q (usa K). De qualquer forma, existe a necessidade, para nós, que falamos português (com o detalhe de eu falar o português do Brasil), de criarmos novas convenções ao enunciar as palavras.
Recorro então às informações fornecidas por Katsunori Wakisaka (2003), coordenador da edição brasileira do Michaelis - Dicionário Prático Japonês-Português, sobre como falantes de português devem pronunciar as palavras japonesas escritas em alfabeto latino pelo sistema Hepburn. Copio (com pequenos acréscimos para ajudar a entender) informações da "Apresentação" daquele dicionário:
- r é sempre consoante vibrante alveolar, como em "caro", mesmo em palavras iniciadas por essa letra. Não existe a pronúncia "rr", como em "rato".
- h é sempre aspirado, como em "hungry", em inglês;
- e e o devem ser pronunciados com som fechado, como o "ê" de "poema", e "o" de "hoje";
- w é uma semivogal e tem som equivalente ao u da palavra "mau";
- y é uma semivogal e tem som equivalente ao i da palavra "mais";
- s é sempre sibilante, como o ss e o ç em português;
- sh tem som de x ou ch, como em "chá";
- ch tem som de tch, como em "tchau";
- j tem som de dj, como em "adjetivo";
- ge e gi pronunciam-se como gue e gui; já as sílabas ga, go, gu pronunciam-se como se escreve.
Amém!
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